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terça-feira, 30 de abril de 2013

Seria essa viagem metalinguagem?

Havia algo preso no peito
Do mago que possuiu as palavras e com elas brincou
Mas a saudade falta-lhe com respeito
Entorna tempestades no sujeito
Mago sou

Faltava nele o sopro que o mantém em pé
Que ele usa para apagar as chamas
Mas quando se está na água, puro deleite é
"Melhor que ela, só ela de leite e café"
Diz o mago ao contar suas muitas famas

Quando mil feitiços forem lançados
Há de bradar-se aos céus de Marte
Ver o mundo em êxtase para todos os lados
Ver olhos cansados
A tirar os véus de sua arte

Ele tem uma paixão que há tempos o cativa
Ela o quer bem, e é difícil porque quer
Nas rimas pobres se esquiva
E tem o charme, ainda que não viva
Se esquiva com charme de mulher

Diz a lenda que o encontro acontece agora
Carpe Diem, Aurea Mediocritas, Locus Amoenus *
São as palavras ditas ali, do lado de fora
Enquanto os dois conversam sob a luz da aurora
E o vento frio encontra os rostos serenos

E então o sol nasceu
Nesse sonho singular
Num momento todo seu
O encontro já se deu
E é hora de entrar

Hoje o mago mostra-se um tanto inconsequente
Não se importa em quão grande é sua obra
Quer prolongar ao máximo o que sente
Como, se de repente
Ignorasse o que o mundo lhe cobra

Enfim lembro, falávamos da saudade que ardia
Vejo que ela foi embora, meio sem jeito
O mago terminou sua magia
Deu o nome poesia
E não há mais nada em seu peito.

Henrique Fonseca, 28/04/2013


*Carpe Diem, Aurea Mediocritas, Locus Amoenus: Expressões latinas tiradas da obra de Horácio e que acabaram virando pilares dos poetas árcades.

sábado, 13 de abril de 2013

Velho

Velho maldito, que põe seu violão o mundo a balançar
Faz, vez em sempre, questão de fazer tirar-se o chapéu
Leva as flores dançantes até a imensidão do ar
Faz pensar que eu, ao tocar, não toco o céu

Benditas chagas da mente velha, de cabelos brancos
De alma viva nas cordas da viola mansa
Que encantabrilha o mundo, com seu belo passo manco
Quem tem sorriso ingênuo ainda é criança

No rosto tracejado tem as lentes da sabedoria
Que a vista cansada não dispensa, não mais!
"Meu filho, as dor no peito aberto tá aqui noite e de dia"
Diz-se ter ficado assim por amar demais

Diz não saber diferenciar o prazer da dor
Porque não ouviu mais cedo o canto das gaivotas
Mas tudo lhe falta, todas as ânsias são mortas
Penso eu que seu lamento é choro, e se o for
Nada resta, nada não! Nada senão as notas

Toca as vidas
Toca os dedos
Troca os medos...
Por saídas

Henrique Fonseca, 13/04/2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Segundo o tempo...

Segundo o tempo
Tudo que se passa em um segundo
É tudo que o segundo pode suportar
E todo aquele que anda pelo mundo
Vê que o limpo e o imundo
Andam juntos, são um par

Todo aquele que quer ser o primeiro
E faz da vitória seu lar
Vê como dói, de janeiro a janeiro
Ser, por um segundo
O segundo a chegar

Assim como a areia do deserto
O tempo é infinito
Às vezes não se vê passar
Por que então, quando tudo está certo,
O segundo é tão sucinto,
Se o tempo é linear?

Henrique Fonseca, 08/04/13