Havia algo preso no peito
Do mago que possuiu as palavras e com elas brincou
Mas a saudade falta-lhe com respeito
Entorna tempestades no sujeito
Mago sou
Faltava nele o sopro que o mantém em pé
Que ele usa para apagar as chamas
Mas quando se está na água, puro deleite é
"Melhor que ela, só ela de leite e café"
Diz o mago ao contar suas muitas famas
Quando mil feitiços forem lançados
Há de bradar-se aos céus de Marte
Ver o mundo em êxtase para todos os lados
Ver olhos cansados
A tirar os véus de sua arte
Ele tem uma paixão que há tempos o cativa
Ela o quer bem, e é difícil porque quer
Nas rimas pobres se esquiva
E tem o charme, ainda que não viva
Se esquiva com charme de mulher
Diz a lenda que o encontro acontece agora
Carpe Diem, Aurea Mediocritas, Locus Amoenus *
São as palavras ditas ali, do lado de fora
Enquanto os dois conversam sob a luz da aurora
E o vento frio encontra os rostos serenos
E então o sol nasceu
Nesse sonho singular
Num momento todo seu
O encontro já se deu
E é hora de entrar
Hoje o mago mostra-se um tanto inconsequente
Não se importa em quão grande é sua obra
Quer prolongar ao máximo o que sente
Como, se de repente
Ignorasse o que o mundo lhe cobra
Enfim lembro, falávamos da saudade que ardia
Vejo que ela foi embora, meio sem jeito
O mago terminou sua magia
Deu o nome poesia
E não há mais nada em seu peito.
Henrique Fonseca, 28/04/2013
*Carpe Diem, Aurea Mediocritas, Locus Amoenus: Expressões latinas tiradas da obra de Horácio e que acabaram virando pilares dos poetas árcades.
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